
A compostagem rastreável já começou a transformar o mercado climático. À medida que cresce a demanda por processos ambientais comprovados, para evitar casos de greenwashing, tecnologias como blockchain ganham papel central. Isso porque ela permite acompanhar cada etapa da cadeia de resíduos, validar a circularidade e garantir a confiabilidade necessária para que os ganhos ambientais se tornem ativos negociáveis.
No Brasil, a Tera Ambiental produz fertilizantes orgânicos a partir da compostagem de resíduos industriais e lodo de esgoto. A empresa atende um mercado que busca insumos com baixa pegada de carbono e comprovação de sustentabilidade em toda a cadeia produtiva, assegurando que o adubo contribua para a saúde do solo e para o aumento da produtividade agrícola.
Em parceria com a Tera, a greentech Carrot.eco desenvolveu o primeiro fertilizante orgânico com rastreamento apoiado por IA e blockchain. Nesse modelo, a Carrot.eco audita a cadeia de suprimentos e registra digitalmente, de forma imutável, que todos os resíduos coletados foram transformados em fertilizante. Essa verificação sólida da circularidade qualifica o produto e permite gerar créditos de reciclagem, que valorizam a destinação correta de resíduos e remuneram toda a cadeia.
A IA e o machine learning garantem a conformidade do processo, organizando e analisando os dados. Entre as informações monitoradas estão a geolocalização da coleta, a pesagem dos resíduos, o modelo e o volume do caminhão transportador e os dados governamentais exigidos para a logística dos materiais. No caso da compostagem, parâmetros como temperatura e oxigenação são essenciais para que o adubo seja considerado orgânico. A IA verifica esses dados e audita toda a cadeia de suprimentos para certificar a circularidade dos resíduos.
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Depois dessa verificação, a blockchain atua como camada de segurança. Ela registra todo o processo, desde a coleta até a confirmação de que o resíduo foi compostado, criando um histórico de custódia transparente e impossível de alterar. Com isso, a comprovação técnica se torna incontestável.
Com os dados registrados, a startup tokeniza as informações e calcula quanto metano deixou de ser emitido graças ao processo de compostagem. A confirmação de que o resíduo orgânico virou adubo em vez de ir para aterros, somada ao benefício ambiental obtido, é convertida em créditos de reciclagem. Esses créditos funcionam como comprovantes de destinação correta e permitem que empresas compensem resíduos que não conseguem reciclar internamente, atendendo à Política Nacional de Resíduos Sólidos sem depender de um programa próprio de logística reversa.
A venda dos créditos de carbono, mesmo em um volume inicial pequeno (equivalente a cerca de 1,5 mil dólares), confirmou que o sistema pode ser ampliado. Até o fim deste ano, a Carrot.eco prevê disponibilizar 150 mil créditos, movimentando potencialmente mais de 23 milhões dólares no mercado voluntário de carbono com ativos de impacto climático imediato.
Com este caso, vimos mais um uso da tecnologia blockchain aliada à sustentabilidade. A iniciativa mostra que a tecnologia pode fortalecer a confiança no mercado voluntário de carbono, aliada à compostagem rastreável e metodologias reconhecidas internacionalmente. O modelo da Carrot.eco indica que é possível unir transparência, impacto climático e geração de valor econômico, abrindo caminho para a expansão de soluções ambientais baseadas em dados verificáveis na blockchain.
Fonte: Exame, InvestTalk, Tera Ambiental