Ciência Descentralizada (DeSci)

Ciência Descentralizada uma abordagem emergente que utiliza tecnologias como blockchain para revolucionar a forma como a ciência é conduzida
Imagem: Unplash

As rotinas de produção e circulação do conhecimento estão cada dia mais atravessadas por lógicas digitais, exigindo que cientistas se envolvam mais com a gestão e a rastreabilidade de artigos de sua autoria. É nesse contexto que surge a Ciência Descentralizada (DeSci), uma abordagem emergente que utiliza tecnologia blockchain para revolucionar a forma como a ciência é conduzida, financiada e comunicada. A DeSci se baseia em princípios de transparência, propriedade descentralizada, recompensas justas e colaboração aberta. Portanto, visa aumentar a acessibilidade, integridade, inovação no ecossistema científico e pode representar um avanço significativo para a Ciência Aberta.

Recentemente, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) implementou a primeira fase do projeto dARK no Portal brasileiro de publicações e dados científicos em acesso aberto – Oasisbr. O Oasisbr é um mecanismo de busca que permite o acesso gratuito à produção científica de autores vinculados a universidades e institutos de pesquisa brasileiros. A partir de agora, os documentos agregados no portal contam com o dARK ID, o identificador persistente dARK (Decentralized Archival Resource Key), um serviço PID (Persistent Identifier) descentralizado e aberto.

O dARK é a primeira implementação de uma tecnologia que pode ser a base para serviços descentralizados e de baixo custo para atribuir identificadores persistentes para objetos de informação. Trata-se de uma aplicação do ARK baseada em nós de blockchain institucionais; os dados são de propriedade, armazenados e controlados não por uma única organização, mas por todos os participantes de uma rede – a Rede dARK.

Identificadores persistentes

Os identificadores persistentes (PIDs), como DOI e ARK, são essenciais para o acesso e citação de documentos de pesquisa. No entanto, os sistemas atuais de PIDs tendem a se centralizar, com custos e modelos de assinatura que dificultam o acesso para muitas instituições e comunidades de países em desenvolvimento. Nesse contexto, o projeto dARK propõe uma alternativa: um sistema descentralizado que permite a atribuição e gestão de identificadores com maior equidade e acessibilidade para todas as instituições de pesquisa, independentemente de seus recursos financeiros.

Portanto, ao oferecer um identificador persistente gratuito, o dARK tem o potencial de transformar a maneira como a produção científica brasileira é identificada, acessada e avaliada. Além disso, fortalece a produção e a colaboração acadêmica na América Latina, ajudando as instituições desta e outras regiões do Sul Global a superar as barreiras em relação à circulação da ciência produzida. 

Direitos autorais

Outro caso relacionado à Ciência Aberta é a deScier, uma plataforma de produção científica descentralizada na qual pesquisadores podem publicar suas produções, garantido 100% dos direitos autorais. Atualmente, cientistas submetem seus artigos a grupos editoriais para os quais os direitos autorais são doados e a proposta da plataforma Descier é ser uma alternativa para esse sistema centralizado.

O modelo da deScier mantém a revisão por pares e tem parceria com a Gosh (Git Open Source Hodler), plataforma de repositórios on-chain descentralizada que funciona como Organização Autônoma Descentralizada (DAO). Na Gosh, cada organização ou grupo precisa ter pelo menos uma pessoa que cria e gerencia os gits. Quando pelo menos mais um usuário entra na DAO, então a governança é de forma descentralizada.

Como parte da parceria, a Gosh construirá um canal revista da deScier para que editores e revisores coordenem o trabalho em artigos científicos. Dessa forma, os autores terão uma plataforma para publicar suas pesquisas revisadas por pares, mantendo 100% de seus direitos autorais. 

Fontes: RNP, IBICT, Descier, BlockNews