
Em 2022, um NFT dinâmico da fachada da Casa Batiló, famoso prédio projetado pelo arquiteto Antoni Gaudí em Barcelona, na Espanha, foi leiloado por 1,38 milhão de dólares (R$ 6,8 milhões à época). De lá para cá, os NFTs tiveram altos e baixos no mercado, mas o que se fortaleceu foi o conceito de tokenização de patrimônio cultural, que é converter bens físicos em representações digitais (tokens) registrados na blockchain. 
Como a blockchain fornece uma infraestrutura descentralizada e à prova de adulterações que garante a integridade e a imutabilidade, é muito útil para registros de bens culturais. Poranto, o uso da tecnologia permite fracionar a propriedade de um bem, abrindo espaço para novos modelos de financiamento e para a negociação em plataformas de criptoativos.
Escadaria Selarón
No Brasil, um exemplo de tokenização patrimonial é o projeto Escadaria Selarón: Pedaço(s) do Mundo. O objetivo é preservar a icônica Escadaria Selarón, no Rio de Janeiro, usando tecnologias digitais e emergentes como programas de gestão de acervos, NFTs, governança compartilhada, Web3 e blockchain. Por meio do Programa BNDES + Patrimônio Cultural (2019), com financiamento coletivo (matchfunding), foi promovida a tokenização de azulejos da escada. 
Cerca de 500 colaboradores  participaram de um leilão no qual um painel (NFT de um azulejo) foi vendido por 1.04 Ether (equivalente a cerca de 2,7 de dólares em novembro/2024). Parte desse dinheiro permaneceu na carteira digital do projeto como arrecadação de fundos para a restauração, que está estimada em R$1,5 milhão. Sendo assim, a tokenização da escadaria é vista como uma possibilidade para construir o capital necessário para a preservação do patrimônio.
O caso da Escadaria Selarón mostra a viabilidade de modelos híbridos entre financiamento coletivo (matchfunding), mercado secundário e preservação digital. O desafio, agora, é envolver e orientar colecionadores, investidores, museólogos, guias turísticos e gestores de museus sobre o uso de blockchain para suporte na preservação de patrimônios culturais.
Tokenizar para preservar
Outros exemplos são as iniciativas coordenadas pela startup Sonhatório que atua como ponte entre projetos culturais e investidores, utilizando a tokenização. Cada token representa uma fração de um projeto e os apoiadores podem escolher exatamente quais desejam financiar — desde programas de residências artísticas e oficinas de restauro até exposições, cursos e festivais. Ao adquirir um token, empresas e indivíduos acompanham em tempo real a aplicação dos recursos e os impactos gerados, aproximando quem investe da realidade de cada projeto. Entre as atuais iniciativas está a manutenção do Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto (Minas Gerais) em que a startup Sonhatório media a captação de recursos para ações culturais, oficinas, instalações, entre outros.
Fontes: Beincrypto, Museu de Astronomia e Ciências Afins – MAST, Pedaço(s) do Mundo: A Escadaria Selarón, tecnologias emergentes, patrimônio cultural e turismo Entrevista com Andre Andion Angulo
