“Software do clima”

Software do clima
Imagem: Javier Miranda/ Unsplash

A comunidade científica do clima, com apoio de ambientalistas e entusiastas do tema, mobiliza, a cada ano, os debates em torno da crise ambiental. Especialmente, desde 2023, quando António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, afirmou que a era do aquecimento global acabou e a era da “ebulição global” chegou, muitos esforços se voltaram para aproveitar as tecnologias emergentes e desenvolver soluções. A relação entre blockchain e clima se expressa em aplicações de compliance socioambiental, tokenização do mercado de carbono, rastreabilidade de resíduos, selos ambientais, mercado de energia limpa, entre outros. Mas, e se várias dessas aplicações estivessem reunidas em um sistema que provê uma Infraestrutura Digital Pública para o Clima (Climate DPI)?

Esta é a ideia por trás do “software do clima”, projeto apresentado na COP 30, em Belém (PA). O documento que relata a criação foi elaborado a pedido do presidente da COP30 Brazil, embaixador André Corrêa do Lago, e teve a coordenação do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS). O projeto parte do diagnóstico de que as iniciativas climáticas globais estão fragmentadas. Sendo assim, propõe o “sistema operacional” para a ação climática mundial, interligando dados, finanças e inteligência digital. Portanto, seria um “software do clima”, aberto para todos os países. 

Assim como rodovias e redes elétricas foram as infraestruturas do século XX, essa infraestrutura digital (Climate DPI) seria a espinha dorsal da transição verde no século XXI. A proposta descreve uma arquitetura modular, chamada “ClimateStack”, com várias camadas:

  • Identificação digital – registro único de pessoas, organizações e ativos ligados a projetos climáticos;
  • Pagamentos e transações – uso de sistemas interoperáveis e contratos inteligentes para transferir recursos e emitir créditos de carbono;
  • Camada de dados abertos – criação de data lakes climáticos, integrando observação da Terra, IoT e ciência cidadã, com padrões abertos e governança ética;
  • Camada de aplicações – serviços públicos digitais (alertas de desastres, mercados de carbono, monitoramento de florestas, previsão de risco climático, etc.);
  • Acesso universal – interfaces acessíveis por web, SMS, rádio comunitária e linguagens locais.
  • As tecnologias e processos necessários para a implementação dessa arquitetura envolvem: sistemas de observação da Terra, padronização global e dados abertos para monitorar clima, florestas e emissões; sistemas de alerta e resposta rápida com a integração de sensores, IA e crowdsourcing para prevenir desastres; finanças climáticas digitais com blockchain e contratos inteligentes para rastrear créditos de carbono e fundos verdes; IA para previsão de riscos; agricultura de precisão; redes elétricas inteligentes; otimização de emissões; e Infraestrutura verde para IA com data centers e softwares sustentáveis, energia 100% renovável e padrões de “Green Computing”.

A expectativa é que a Infraestrutura Digital Pública para o Clima (Climate DPI) aumente a  transparência e confiança nos mercados de carbono, melhore processos de monitoramento das emissões, reduza tempo de resposta em desastre e eventos extremos e economize bilhões no fluxo de capital climático.

Fonte: ITSrio e Cop30.br