Arquitetura descentralizada e tokenização do espaço aéreo

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Muitos previram que, no futuro, carros voadores seriam comuns. Ainda não chegamos lá, mas estamos próximos. A imagem de drones cruzando o céu para transportar passageiros e entregar encomendas deixou de ser ficção científica e virou uma realidade em construção, impulsionada por pesquisas em arquitetura descentralizada e tokenização do espaço aéreo.

Para alcançar esse cenário, precisamos garantir segurança e ordem no espaço aéreo com a mesma rigidez da aviação tradicional, mas adaptada à escala e autonomia dos drones e das aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical (eVTOLs), como as da Embraer (IVE).

É nesse ponto que o Grupo de Trabalho (GT) DroneChain-UTM entra. Criado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o GT é apoiado pelo  Projeto Ilíada e propõe usar a tecnologia blockchain como espinha dorsal do Gerenciamento de Tráfego Não Tripulado (UTM) no Brasil.

O espaço aéreo é um recurso finito e complexo. Em grandes cidades como o Rio de Janeiro, a aviação civil, militar e as rotas de helicópteros já saturam o céu. Adicionar milhares de drones exige um sistema capaz de:

  • Garantir a segurança: evitar colisões e respeitar áreas restritas, como aeroportos, hospitais e pontes.
  • Operar de forma descentralizada: coordenar empresas concorrentes de logística, que administram frotas com diferentes capacidades, sem depender de uma única autoridade central para todas as interações.
  • Ser transparente e auditável: permitir que operadoras de drones e reguladores tenham total confiança nas reservas de espaço aéreo e nos planos de voo, sem risco de favorecimento.

Os sistemas globais atuais, como o InterUSS, usam bancos de dados distribuídos eficientes, mas ainda não oferecem a descentralização e a transparência criptográfica que a blockchain proporciona.

Para resolver isso, o GT DroneChain-UTM, coordenado pelo professor Lourenço Alves Pereira Júnior, propôs substituir o backend tradicional do UTM por um ledger distribuído. O sistema se apoia em três pilares:

1. Tokenização do espaço aéreo

O GT propõe usar arquitetura descentralizada e tokenização do espaço aéreo para representar a reserva de trechos específicos do céu. Em vez de apenas registrar um voo, cada reserva se transforma em um Token Não Fungível (NFT) que representa um volume de ar em quatro dimensões: latitude, longitude, altitude e tempo.

Na prática, uma empresa de delivery que deseja reservar uma rota compra o token correspondente àquele período e local. Esse token garante exclusividade e impede que outra aeronave ocupe o mesmo espaço, automatizando a coordenação e permitindo gerenciar o espaço aéreo como um recurso seguro.

2. Contratos inteligentes para automação

O coração do sistema é um contrato inteligente executado em plataformas como Hyperledger Fabric ou Ethereum/Besu. Esse código valida planos de voo, checando se a rota viola alguma restrição geográfica ou interfere em reservas existentes antes de autorizar o voo. O contrato também controla o acesso, permitindo que apenas entidades autorizadas interajam com o sistema.

3. Auditoria imutável

A blockchain registra cada reserva de espaço, autorização de voo e evento relevante (como mudanças de rota ou pousos de emergência). A imutabilidade e a auditabilidade são essenciais para a aviação. Além disso, a blockchain facilita a investigação de incidentes ao manter um histórico confiável.

O GT DroneChain-UTM posiciona o Brasil na vanguarda da gestão do espaço aéreo. Os processos de digitalização de ativos reais, baseados em blockchain, potencializam os transportes aéreos autônomos e outros setores da economia.